Santa Paulina: recordando sua itinerância

Nascida em dezembro de 1865, Amábile, a amável, era uma criança dotada de virtudes especiais. Aos oito anos, já era uma pequena camponesa nos trabalhos da lavoura e fábrica de seda. Cuidava de sua avó enferma e, mesmo com o pouco lanche que tinha, repartia com sua amiguinha, que tinha menos ainda. Seus pais: Anna Pianezer e Antônio Napoleone Visintainer educaram-na no caminho do bem, nos caminhos de Deus! A ela e às demais irmãs e irmãos.

 

Aos dez anos, tornou-se emigrante, por necessidade. Devido à situação financeira, a família deixou sua terra, no Tirol Italiano, antigo Império Austro-Húngaro, hoje Itália, e veio para o Brasil. Se para os adultos esse era um passo no escuro, muito mais, para uma criança. A pequena e amável Amábile deixa para trás a casa onde nascera, sua cultura, sua terra, seus costumes.

Em condições precárias, a viagem de navio durou aproximadamente um mês até o Porto de Itajaí (SC). A pequena e amável Amábile depara-se com um mundo diferente. O pedacinho desse imenso Brasil era grande demais para ela. Seu olhar ainda infantil, talvez tenha sido muito impactado com o que viu. O rio gigante e a imensa floresta a assustam, certamente. Tudo era muito estranho para uma criança com menos de dez anos. Vive verdadeira experiência de imigrante. E a saga da viagem continua por mais dias até o lugarejo, em meio à mata. E, justamente, nesse chão, que recebeu o nome de onde viera, hoje, Vígolo, a amável Amábile fixou morada com seus pais e mais de dez irmãos. Na pobreza, na simplicidade, na austeridade do trabalho, aquela amável menina vai crescendo.

No início de sua juventude fica órfã de sua mãe, que falece de parto. Além da dor, é uma perda muito grande para quem assume toda a responsabilidade da casa e da família. Mas já aprendera que a vida é exigente. Passa a ser responsável pelos cuidados da casa, do pai e dos irmãos. Mas vai além disso. Sua vida é totalmente dedicada a quem dela precisa. Na Evangelização, como catequista, na visita aos doentes, nos cuidados da capela Nossa Senhora de Lourdes, no vilarejo de Vígolo.

Numa das noites, Amábile tem um sonho. Não é qualquer sonho. Um sonho com a Mãe de Lourdes! No sonho, um chamado especial de Deus. O sonho a inspira a dedicar sua vida inteiramente a serviço do próximo. Sua vida é impactada, transformada por esse sonho.

Amábile põe-se a caminho rumo ao casebre. No carro de bois, guiado pelo seu pai e irmão, vai a senhora Ângela Viviane, portadora de câncer. Não tem medo de enfrentar novos desafios, mesmo sendo obscuros esses caminhos. No pequeno casebre cuida, noite e dia, de dona Ângela. Tem a presença inseparável da amiga Virgínia, com quem partilha os sonhos, projetos e missão. Essa data histórica foi 12 de julho de 1890! Há 130 anos!

Mais tarde, do pequeno casebre, vai para Nova Trento. Consagra sua vida ao centro e alicerce de sua vida: Deus! Seu nome também muda. A Amável Amábile passa a ser chamada de Madre Paulina. Não está sozinha. As duas companheiras Virgínia e Teresa também consagram suas vidas. Era dezembro de 1895.

Pouco tempo depois, em 1903, novo passo rumo a outro mundo desconhecido: São Paulo! São presenças junto aos ex-escravos e seus filhos. Em 1909, sofre muito. É deposta de superiora geral. Enviam-na a Bragança Paulista. Cuida de doentes na Santa Casa e funda um lar de idosos.

O coração de Madre Paulina é sem fronteiras. É convidada a retornar a São Paulo. Vê, com alegria, algumas de suas Irmãzinhas partirem para Mato Grosso. Seu coração missionário vai junto.

É uma verdadeira migrante missionária no país que a acolheu. Com seu falecimento, em 9 de julho de 1942, não cessou sua missão. Outros estados e países a acolhem na pessoa de suas seguidoras. Os mais pobres e sofridos são os principais destinatários de sua missão, conforme Jesus lhe pediu e conforme o Papa convoca “para uma Igreja em saída”.

Amábile, a amável menina que deixou sua terra natal, é, hoje, a nossa querida Santa Paulina. É seta que aponta o Verdadeiro Caminho: Jesus! Em sua vida, desde a infância, passa por todas as experiências: emigrante, imigrante, migrante, num movimento contínuo.

Deixou-nos sua mensagem encorajadora:

“Nunca, jamais, desanimeis, embora venham ventos contrários!”

Colaboração: Irmã Luzia C. dos Santos