Todo ano é a mesma coisa. Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, chovem congratulações, homenagens e celebrações. Passada a efeméride, as brasileiras, em sua maioria, voltam ao cotidiano de subalternidade, discriminação, exploração e assédio.
Nunca entendi o uso da expressão “sexo frágil”, para se referirem as mulheres. Não tem como ser mulher e fraca no Brasil, isto é uma questão de sobrevivência. Ser mulher no Brasil é, em algum momento da vida, passar por abusos, desde psicológicos até físicos. Isso pode acontecer no trabalho, na rua ou na própria casa. Somos encaixadas em estereótipos de beleza e personalidade para agradar o patriarcado. Ser mulher no Brasil é sinônimo de força e de coragem, porém, passou da hora de termos que ser fortes para aguentar tamanha crueldade. Chegou o momento de lutarmos para que nossas netas sejam fortes porque querem ser, não porque precisam. Ser mulher é um ato de amor próprio, de libertação, um ato político e, principalmente, de fé.
A política é uma das inúmeras áreas em que a mulher está em situação de desigualdade, que pode ser percebida na seguinte comparação: as mulheres são maioria na população brasileira (51,7%), mas representam apenas 44,27% do número de filiados a partidos políticos.
Esta defasagem só piora na escolha de candidatos nas eleições. Nas eleições municipais de 2016, por exemplo, somente 31,6% dos candidatos a cargos eletivos eram mulheres.
Contudo, em 2018, quando a Constituição cidadã completou 30 anos, elegemos 77 deputadas federais, o maior número da história, ampliando de 11% a 15% a presença feminina no Congresso. O número de jovens, negras, pobres e LGBTs também aumentou significativamente. Joênia Wapichana é a primeira deputada federal indígena, eleita por Roraima. Em São Paulo, Erica Malunguinho tornou-se a primeira deputada estadual transexual.
O trabalho solitário e sem pagamento de reprodução social, relegado quase exclusivamente às mulheres, é por certo uma das razões dessa sub-representação. Já empobrecidas por salários inferiores, gastamos mais de 20 horas semanais cuidando da casa e da família, duas vezes mais que nossos pares, socialmente liberados da obrigação de cuidar, para se dedicar à verdadeira política.
Como diz Ada Colau, prefeita de Barcelona, na Espanha:
“Este é o século das cidades e das mulheres. O feminismo tem a ver com o municipalismo: propõe que as mudanças sejam produzidas na esfera da vida. O pessoal é político. A política patriarcal se ocupava da macropolítica e ignorava toda a questão dos cuidados e da reprodução. A maior parte de nossas vidas permanecia inviabilizada e nas mãos das mulheres, porque os homens ficavam na política de verdade. Esse sistema está claramente em crise.”
A fala de Ada Colau sugere que há muito jogo pela frente. De fato, é planetária a luta das mulheres: uma revolução permanente e internacional.
O período eleitoral se aproxima, cabe a nós o desafio de contribuir para o avanço da participação mais efetiva das mulheres nos espaços de poder e decisão. A igualdade das mulheres na política beneficiará a sociedade como um todo. Estudos mostram que em regimes democráticos, quanto maior é a presença de mulheres no Parlamento e no governo, menor é a incidência de corrupção.
Vemos que a mulher, no decorrer das décadas, foi ganhando seu espaço, porém tem muita luta pela frente, muitas estatísticas a serem mudadas e outras melhoradas. Devemos andar juntas, uma apoiando a outra. Lembrar a cada uma de nós que lugar de mulher é onde ela quer, pode ser cuidando dos filhos e da casa, dando aula em escolas e universidades, ingressando em congregações ou administrando partidos políticos.
Espero ver mulheres na política, para que possa me inspirar e conseguir inspirar a outras. Sonho com uma nação com mais políticas para as mulheres e mais mulheres na política.
* Vânia Mugartt, ex-noviça da CIIC, foi vice-prefeita de Bonito (MS). Atualmente, é presidente do PSB (Partido Socialista Brasileiro), em Bonito (MS).