As mulheres negras brasileiras vêm se organizando na defesa de sua identidade e pontuando suas diferenças dentro do próprio movimento negro e no movimento feminista. O desafio presente, ainda hoje, é conseguir ressignificar uma identidade feminina, que no imaginário social brasileiro permanece representada apenas pela ideia de um corpo.
A todo instante a mulher negra, consciente de sua identidade, é desafiada a pensar mecanismos que favoreçam a luta contra as diversas formas de opressão e fortaleçam a busca de mudança estrutural a favor da sobrevivência.
Somos atingidas constantemente pela opressão do machismo aliado ao racismo. Daí vem a urgência de uma ação unificada: pensar gênero, classe e raça conjuntamente. Não tem como trabalhar essas categorias de forma isolada, uma vez que as forças opressoras estão correlacionadas.
As circunstâncias que levam as mulheres negras a uma maior organização político-social é a busca para retornar ao lugar que a sociedade em algum momento da história as tirou, tentando colocá-las num lugar subalterno, relegando uma condição de objeto ou que está sob as ordens de outro.
Nos dias atuais, há várias organizações e movimentos formados por mulheres que buscam resgatar, com resistência, a identidade da mulher negra como alguém que pensa, que pode ser um sujeito político e cognoscente, que produz conhecimento e transmite saberes.
O que marca a posição do feminismo negro na sociedade, hoje, é a habilidade de agregar comunidades, a capacidade de romper padrões impostos, propagar ideias e a resistência somada à resiliência, que faz usar até mesmo do preconceito para formar mentes pensantes, buscar a sororidade, ocupar e alargar os espaços que foram estreitados por um sistema medíocre.
Assim, seguimos na utopia. É ela que nos faz caminhar e seguir buscando um lugar social, onde emana o respeito às diferenças e os direitos sejam garantidos.
“Eu realmente penso que utopia é quando a gente se move em novas direções e visões. Utopia no sentido de que necessitamos de visões para nos inspirar e ir para frente. Isso tem que ser global. Precisamos achar um modo de dar conta e saber como vamos interligar nossas lutas e visões e chegar a algumas conclusões sobre como desenvolver novos valores revolucionários e, principalmente, como desatrelar valores capitalistas de valores democráticos”, declarou Angela Yvonne Davis, militante das questões raciais e de classe.
Colaboração: Irmã Maria Aparecida Gonçalves