História de luta e resistência da mulher

Oito de março é o DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Momento propício para refletirmos sobre a identidade e resistência da mulher brasileira. A mulher que sofre preconceito e, mesmo assim, segue forte e destemida, marcando presença significativa na família, na sociedade, na política, no mercado de trabalho, nas universidades, no mundo da moda e da publicidade, nas lutas sociais e outras situações em que sua presença se faz necessária para que aconteçam as grandes mudanças.

Apesar dos desafios do cotidiano, a mulher tem lutado, conquistado e provado sua competência. Mulheres que estão se conscientizando e mostrando para a sociedade sua beleza natural, sua garra e sua força, sem a necessidade de mudar para se aproximar de padrões sociais que a sociedade machista determina.

Com suas personalidades fortes, ajudam a construir o Brasil. Lideranças que articulam políticas e ações voltadas para a superação das desigualdades e inspiram um futuro melhor e uma sociedade mais justa e igualitária.

Mulher guerreira, corajosa, que rompe elos convencionais para buscar formas alternativas de viver e ser feliz. Hoje, mais que ontem, existem mulheres que têm a ousadia de pensar, discordar, contestar e propor alternativas sociais, nas quais cada pessoa pode ocupar seu espaço e contribuir com a construção de uma nova sociedade.

Mulheres de luta que enfrentam forças contrárias e permanecem firmes, pois acreditam na capacidade que têm. Como dizia Santa Paulina: “Nunca, jamais desanimeis, embora venham ventos contrários”.

Muitas foram as mulheres que deixaram o seu legado de luta e resistência, como Santa Paulina que, desde a sua infância, foi uma mulher empreendedora, com visão de futuro, ousadia e coragem para enfrentar forças opressoras. Firme na sua missão, demarcou o seu espaço (e das mulheres) na sociedade e na Igreja, sendo inspiração para tantas mulheres que seguem na luta por um mundo melhor.

Inspiradas em tantas guerreiras, conheça a História de Luta e Resistência de algumas mulheres na sociedade hoje.

“Sou muito feliz por ter nascido mulher. Quando solteira eu não pensava em me casar, mas Deus me presenteou com um marido muito bom. Sinto uma conquista grande de ser mãe de um filho e ter um neto, uma família que vive bem e é atuante na comunidade. Trabalho como catadora de reciclagem no lixão de Porto Velho (RO). Fico à frente da responsabilidade da casa, dos trabalhos para ajudar a sustentar a família. Contribuo muito com meu esposo que sai para trabalhar, chegando a  ficar até 30 dias fora de casa, e eu assumo os negócios. Corro muitos riscos no trabalho que exerço, como materiais cortantes, risco de infecção e falta de proteção. Enfim, tem de tudo no lixão. A segurança da Vila também é precária, muitos assaltos, uso de drogas entre crianças, adolescentes e adultos. Sou uma mulher de coragem e dedicada à vida da comunidade.” – Genilsa Pimenta da Silva da Costa

 

“Eu tenho 53 anos, sou casada, mãe de dois filhos e trabalho como balconista. Tive uma infância difícil, por isso comecei a trabalhar desde cedo lavando roupa, fazendo salgados e na construção civil, para ajudar os meus pais com seus 15 filhos. Isso me ajudou a criar forças e resistência para enfrentar os desafios que todos os dias a vida me apresenta. Trabalhei durante anos de segunda a segunda em empresas que me escravizaram, mas sempre carreguei o sonho de lutar por melhores condições de vida e trabalho para o meu próximo. Com pouco conhecimento, encontrei em pessoas dedicadas, como as Irmãzinhas da Imaculada Conceição, mais apoio e forças para lutar pelos meus direitos. Hoje, faço parte do grupo “Fica Vivo” que luta por melhorias na área social do município de Ribeirão das Neves (MG). Participo da Renovação Carismática Católica e realizo, junto com o grupo, visitas semanais às famílias mais necessitadas. Pertenço ao grupo “Resgatando Vidas com Arte”, do qual participam mulheres feridas, esquecidas, destruídas em sua dignidade. Mas, o bonito e gratificante é perceber o que a arte feita com amor e carinho é capaz de produzir em nós. Através da partilha de vida, da escuta, do capitonê, do crochê, da decoupage, do tapete em tear, resgatamos e fazemos emergir o sonho e o potencial que cada mulher carrega dentro de si. E isso é muito bom!” – Eliana Maria dos Anjos

 

“Tenho 45 anos, sou professora, nascida e criada na Aldeia Buriti. Certa época de minha vida, minha mãe pensou que o melhor para mim era ir para a cidade estudar. Ela dizia que ia fazer de tudo para que eu pudesse ter uma formação na vida e não passar as dificuldades que ela passou na sua infância. Ela trabalhou como doméstica e me criou no serviço. Sempre ajudei ela desde pequena e, graças ao bom Deus, consegui me formar no Magistério, pois desde pequena sonhava em ser professora. Durante a minha caminhada de estudante, às vezes, tive um pouco de dificuldade com o preconceito por ser indígena, mas mamãe sempre me incentivou a não desistir. E, um dia, já formada retornei à aldeia a convite da liderança da época para lecionar e pude contribuir com a educação da minha comunidade. Já se passaram 22 anos, hoje os tempos são outros. Após a mudança de nossas lideranças, há alguns anos, as mulheres podem participar ativamente de reuniões, contribuindo com opiniões e ideias, sobre vários assuntos, como saúde, território, educação, entre outros. Percebi que o fortalecimento como mulher depende muito de nós, nos dias de hoje, pois o homem indígena não é muito diferente do homem não indígena. Durante muito tempo fomos submissas ao machismo do homem terena. Hoje, em nossa comunidade, temos mulheres com várias missões, principalmente como professoras. Quando voltei para aldeia para dar aula, eu era a única professora mulher entre quatro professores homens. Hoje estou na direção, a primeira mulher no cargo depois de quatro homens. Temos mulheres enfermeiras, agentes de saúde, entre outros. Hoje, um grupo de mulheres com ideias fortalece e contribui para as melhorias de nossa comunidade. Os desafios são muitos, mas tudo o que buscamos é para que nossas futuras gerações não passem pelo que passamos e continuem a valorizar e defender o nosso povo.” – Ana Sueli Fernino

 

“Nasci em 24 de outubro de 1920, cresci na Aldeia Buriti e tive 12 filhos. Hoje, estou com 98 anos. Antigamente as coisas eram muito difíceis, a luta pela sobrevivência junto com meu esposo e meus filhos foi muito grande. No passado as mulheres não podiam sair para estudar e viviam somente em casa cuidando dos filhos ou ajudando o esposo na lavoura. Elas não tinham liberdade para nada. Até hoje eu não sei o que é uma escola, pois nunca estudei. Sempre lutei muito para criar os meus filhos, porque antes não tinha posto de saúde, era somente remédios caseiros com ervas e raízes. Eu nunca fui ao médico para ter os meus filhos, tive todos em casa com ajuda de parteiras. Meu marido Joaquim Fernandes trabalhava na lavoura, não tinha água encanada, buscava na cabeça e puxando de uma cacimba, hoje conhecido como poço. Não tinha ferro para passar roupa e não tinha luz elétrica, a nossa luz era um lampião caseiro feito de lata de óleo e o fogão era feito de pedras para poder cozinhar. Eu acredito que fui uma mulher muito guerreira, resistindo em todas as dificuldades que tive, com a ajuda do nosso Ituko ‘Oviti (Deus). E, se hoje ainda estou vivendo, apesar de tantas lutas, é graças a Ele, nosso Ituko ‘Oviti.” – Otilha Gabriel

 

“Moro no bairro União, na cidade de Belo Horizonte (MG). Participo das atividades do bairro, que ajudam no meu bem-estar e contribuem com a comunidade. Também estou na comissão local de saúde, na qual avaliamos o desenvolvimento e planejamos as melhorias junto aos órgãos responsáveis. Na Igreja, junto à Pastoral da Mulher, realizamos atividades que nos dão oportunidade para o crescimento como: troca de experiência em trabalhos manuais de artesanato, momentos de espiritualidade, valorização individual e comunitária. No CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), participo da ginástica de vida ativa com exercícios que auxiliam no equilíbrio e bem-estar do corpo e da mente. Sou integrante do grupo de Mulheres RenovadaS, no Centro de Assistência Social Tecendo a Vida. O grupo desenvolve atividades em parceria com várias instituições como: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rede SESC, Movimento Popular da Mulher e outros. Desenvolvemos atividades que ajudam no empoderamento e na garantia e defesa dos direitos da mulher, conhecendo e buscando os direitos já adquiridos, o que nos proporciona uma vida com mais vigor e participação na nossa comunidade e no nosso país.” – Emilia Freire Murta Jardim

 

“Sou a filha mais velha de uma família de sete irmãos. Minha mãe sofreu muita opressão e violência doméstica. Em muitas situações, eu tomei a frente para defendê-la e, assim, começou a minha militância. Atuei na educação infantil, a parte mais vulnerável da educação, porque são os professores com os menores salários. Casei, tive dois filhos e, quando os meninos cresceram, fui trabalhar no sindicato, na pauta da educação infantil. Participei do Conselho Municipal da Educação, defendendo os professores do município, principalmente as mulheres que trabalhavam na educação infantil. Também me envolvi nas Conferências da Mulher e assumi o Conselho Municipal do Direito da Mulher, como conselheira, por várias gestões. Comecei a fazer parte do Movimento Popular da Mulher, foi quando aprofundei minha formação na questão da mulher. Paralelamente, eu trabalhava com cinema, então fui selecionada para produção de filmes com temas relacionados às mulheres para as escolas e para o próprio cineclube. Hoje estou na vice-presidência do Conselho Municipal da Mulher e também no Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, além da coordenação da Rede Estadual de Enfrentamento de Violência contra a Mulher, uma rede muito forte que trabalha com todas as entidades que atuam no combate à violência contra a mulher. Sou muito feliz por trabalhar nessa área. Acredito que não basta militar somente nas associações de bairro, nos movimentos, é preciso estar nos espaços de poder. Eu luto para que as pessoas que estão no Parlamento respondam pelas nossas pautas no que diz respeito às mulheres. Sou comunista, faço parte do PC do B e luto por um espaço para mais mulheres no poder.” – Terezinha Lucia de Avelar (Tetê Avelar) 

 

E você, mulher, o que está esperando para ocupar o espaço que é seu na sociedade? Saíamos às pressas e vamos juntas construir a sociedade que Deus sonhou para a humanidade. “Para mudar a sociedade do jeito que a gente quer participando sem medo de ser mulher.”

 

Colaboração: Irmã Cicera Oliveira