Congregação celebra 90 anos de missão no Mato Grosso

Irmãzinhas e padre Reinaldo na abertura da celebração em Diamantino.

Um grupo de Irmãzinhas reuniu-se no Instituto das Irmãs Discípulas do Divino Pastor, em Diamantino (MT), entre 17 e 19 de outubro, para fazer memória histórica e celebrar os 90 anos da chegada das primeiras Irmãs ao Mato Grosso. O encontro também contou com a presença de Irmãs do Governo Geral, da coordenação da Província Nossa Senhora de Lourdes e de representantes da Província Nossa Senhora Aparecida.

Padre Reinaldo Braga Júnior, amigo da Congregação e conhecedor da história, acompanhou e assessorou este momento celebrativo que teve como tema “Celebrar a vida e a história: 90 anos da presença missionária no Mato Grosso”.

As primeiras Irmãzinhas a serem enviadas ao Mato Grosso foram Maria do Rosário, Gaudência, Tarcila, Aureliana e Ludovina. Abençoadas por Madre Paulina, elas saíram de São Paulo no dia 5 de abril de 1934. Após dias de viagem, com muitas dificuldades, chegaram em Diamantino no dia 21 de abril e, poucos anos depois, partiram para a missão com os povos originários.

Padre Reinaldo faz memória da missão em Utiariti.

Durante o encontro comemorativo, as Irmãs participantes refizeram a caminhada das primeiras Irmãzinhas, visitando lugares históricos e cheios de significado para a Congregação. Uma das paradas foi na Aldeia Utiariti, a mais de duzentos quilômetros de Diamantino, hoje, município de Sapezal. No trajeto, percorreram os mesmos caminhos que, no início da missão, eram de terra e ficavam em meio à mata (há uma grande parte da estrada que ainda é assim). Passaram pela cidade de Campo Novo do Parecis, onde, em 1934, só existia uma grande árvore, local de parada das Irmãs e dos padres missionários Jesuítas para descansarem ou se alimentarem.

Sepultura de Irmã Tarcila.

Mais adiante, conheceram o lugar onde, em meio a noite escura de 31 de agosto de 1954, Madre Tarcila sofreu um acidente de caminhão e faleceu. Uma parte muito triste da história!

As Irmãs estiveram, ainda, na aldeia dos indígenas Parecis, onde padre Arlindo, SJ trabalhou durante anos e ali fez a oferta definitiva de sua vida a Deus. Foi um grande amigo e irmão das Irmãzinhas, e por isso, sua sepultura foi um dos lugares de parada e oração.

Em Utiariti, visitaram a sepultura das Irmãs e deixaram uma placa em memória dos 90 anos de missão. No local da primeira residência, hoje, em ruínas, foi plantado um Ipê, como símbolo da vida que não morre. Neste espaço, ainda se pode contemplar as lindas mangueiras, carregadas de frutos, com troncos enormes, plantadas pelas Irmãs e missionários Jesuítas.

Segundo Irmã Luzia Cândido dos Santos, secretária da Província Nossa Senhora de Lourdes, o clima do encontro foi de memória e ação de graças. “Tivemos muitas surpresas que encheram os corações de emoção. Tudo foi carregado de muita mística e espiritualidade”, descreveu Irmã Luzia.

Irmã Rosane e Irmãs da Coordenação-Geral recebem a cruz missionária histórica.

Irmã Rosane Lundin, coordenadora-geral da Congregação, também marcou presença neste momento especial. De acordo com ela, a celebração dos 90 anos de presença missionária no Mato Grosso foram dias de memória agradecida e profética. “Gratidão a Deus pelos sinais visíveis de sua presença na vida e história da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. A memória nos convoca ao compromisso de fortalecer o elã missionário da Congregação em todos os espaços onde estamos e atuamos. Que estes 90 anos renovem nossa fidelidade, compromisso e esperança. Somos filhas de Santa Paulina, guardiãs de um grande legado e, como peregrinas da esperança, construímos o presente e o futuro. Gratidão pela peregrinação à missão de Utiariti. Hoje posso afirmar: meus pés pisaram este chão sagrado, meu coração pulsou forte e senti um silêncio e uma paz profunda”, declarou a superiora-geral.

O encontro foi concluído com uma celebração de ação de graças na Igreja Matriz de Diamantino, presidida pelo padre Reinaldo e concelebrada por outros sacerdotes da cidade.

Colaboração: Irmã Luzia Cândido dos Santos

HISTÓRIA

Com a bênção de Santa Paulina, em 05 de abril de 1934, as Irmãs Aureliana Maria de Jesus Crucificado, Gaudência de Nossa Senhora do Rosário, Ludovina Maria do Coração de Jesus, Maria do Rosário de São Luiz e Tarcila Maria do Anjo da Guarda partiram de São Paulo para o Mato Grosso com a missão de auxiliar na educação de crianças, no cuidado dos enfermos e na catequese dos povos indígenas. A missão no Mato Grosso foi um convite dos padres da Companhia de Jesus, que desde 1930 já se encontravam em Diamantino. Necessitando de ajuda para a difícil tarefa, solicitaram auxílio das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que logo aceitaram. O Provincial dos Jesuítas, como gesto de profundo agradecimento, entregou à Congregação os restos mortais do Pe. Luiz Maria Rossi, SJ, primeiro orientador espiritual da CIIC.

Essa missão exigia muitos sacrifícios por parte das Irmãs, a começar pela longa viagem até Diamantino (MT), lugar pobre e sem estrutura. Consideradas as grandes dificuldades da região do Mato Grosso, na época repleta de nações indígenas, sem estradas e com animais selvagens, Irmã Luiza de Jesus Crucificado, Superiora-Geral da época, não determinou quais Irmãs deveriam ir. Pelo contrário, propôs às Irmãs que se voluntariassem livremente, e assim foi feito. Consta nos relatos que, apesar da falta de recursos, as Irmãs sentiram-se felizes e realizadas.

Antes de partir, pediram a bênção a Madre Paulina. A fundadora, comovida, abençoou as missionárias que partiram para a Estação Sorocabana.

A participação de Madre Paulina na fundação da missão no Mato Grosso é confirmada pela carta das primeiras missionárias endereçada a ela: “Madre Fundadora, uma coisa é falar de Mato Grosso, e outra, vir até aqui! {…} Pedimos uma especial bênção a fim de continuarmos a nossa viagem”, diziam elas.

E que viagem! Com muita dificuldade, chegaram a Diamantino às 19h30 do dia 21 de abril de 1934. Foram 17 dias de viagem, por estrada precária. Chovia torrencialmente e, por causa disso, a festa preparada para receber as Irmãs foi adiada para o dia seguinte.

Como primeira moradia, as Irmãs adaptaram um barracão de taipa. O espaço foi dividido em uma pequena sala, dois quartos, um dormitório, refeitório e cozinha. A casa estava desprovida de tudo. Não havia camas, apenas algumas redes. Pouco a pouco, conseguiram melhorar as condições de vida. As Irmãs levavam tudo de forma muito leve, e isto amenizava os sofrimentos da pobreza. Como eram alegres!

A partir daí, a missão da Congregação no Mato Grosso se expandiu cada vez mais!

O início das missões entre as nações indígenas foi junto dos Nhambikara, em Mangabal do Juruena. Depois, a missão se expandiu para Utiariti e, além de Diamantino, para Rosário Oeste, Cuiabá, Alto Paraguai, Santo Antônio de Leverger, Barão de Melgaço, São José do Rio Claro, Juara, Colíder, Nova Canaã, onde as Irmãzinhas atuavam, além da Pastoral Indígena, na educação escolar, no cuidado com os enfermos, no acolhimento de internas, no amparo aos idosos e na pastoral paroquial, com destaque para a catequese.