Comunidade de Surpresa celebra 40 anos de missão

A missão das Irmãzinhas da Imaculada Conceição na Diocese de Guajará-Mirim, em Rondônia, iniciou em agosto de 1982. Junto com padres, religiosos, médicos e engenheiros agrícolas, as Irmãs integravam a Equipe Volante Permanente, que navegava pelos rios Guaporé e Mamoré, visitando as famílias; realizando os sacramentos, extração de dentes, consultas médicas e as mais diversas orientações; bem como cultivando uma ótima convivência com os povos ribeirinhos e aldeias indígenas.

A comunidade religiosa com o nome de Nossa Senhora dos Seringueiros nasceu somente em 3 de março de 1985, quando Dom Geraldo Verdier, na época bispo de Guajará-Mirim, construiu uma casa para as Irmãzinhas em Surpresa, próximo à Aldeia Indígena de Sagarana.

As Irmãs Salete Maria de Jesus Eucarístico (Teresinha Stoffel) e Teresinha Scapin, fundadoras da comunidade, além de participarem da Equipe Volante, também assumiram o atendimento à Aldeia Indígena de Sagarana e à Escola Municipal de Surpresa.

As Irmãs atuavam na educação, na saúde, na roça comunitária, na horta da escola e na formação de lideranças. Para as famílias que habitavam Surpresa, elas procuravam ser presença amiga, coordenando as celebrações, grupos de jovens e de adolescentes, grupos de reflexão bíblica e catequese. Também marcavam presença em Sagarana, que fica a cerca de 8 km de Surpresa, ministrando aulas para crianças de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental. Irmã Salete Maria também atendia os doentes e extraía dentes.

Irmã Isabel Pastore chegou na comunidade em agosto de 1986 e notou que Surpresa era uma região missionária. “A casa era muito simples, não tinha forro e a água era tirada com um balde do poço. Não havia luz elétrica e muito menos telefone. Só tínhamos notícias da família quando íamos a Guajará-Mirim buscar cartas no correio. Na hora de jantar, queimávamos algo que fizesse fumaça para afugentar os pernilongos que vinham em enxame. No começo fiquei com as pernas perebentas, pois de dia haviam mutucas e, à noite, carapanãs”, descreve Irmã Isabel.

Em 1987, as Irmãs ampliaram a missão e se comprometeram a visitar, a cada dois meses, quatro comunidades da Bolívia que ficam a até quatro horas de voadeira (tipo de barco), onde residia um povo simples, pobre e acolhedor. Geralmente, as Irmãs iam aos sábados e voltavam no domingo à tarde. Visitavam famílias, faziam a celebração e organizavam os grupos de catequese, jovens e adolescentes. Quando era possível, doutor Gilles Decateus, médico e missionário francês, que deu a vida juntos aos povos ribeirinhos e, de modo particular, aos indígenas, acompanhava e ficava à disposição para atender as consultas.

Segundo Irmã Lucisnei Rojas Dorado, Irmã Salete era o socorro do povo da região. “Recordo-me de uma noite em que o marido de uma mulher doente foi chamar Irmã Salete e ela me acordou para acompanhá-la na visita. Andamos com a luz da lanterna pelo caminho cheio de capim, que estava muito molhado pelo sereno. Graças a Deus, Irmã Salete aplicou um medicamento e a mulher melhorou”, relata Irmã Lucisnei, que morou em Surpresa há 33 anos e agora faz parte da comunidade novamente.

As Irmãzinhas também marcam presença junto às mulheres. Irmã Maria de Lourdes Duarte, em sua passagem pela cidade, atuou na Igreja São Judas Tadeu e envolveu as mulheres em diversas funções. “Em uma comunidade ribeirinha isolada, elas eram frequentemente criticadas pelos homens. Ainda assim, as mulheres promoviam formações e mantinham uma produção diversificada, como artesanato e casa de farinha”, explica. Irmã Maria José Paixão, que esteve em Surpresa entre 2019 e 2024, fundou o grupo de Mulheres Indígenas de Sagarana, que agora será acompanhado pela Irmã Lucisnei.

Para Irmã Lucila Pereira Costa, que esteve em Surpresa em 2021, há muito o que fazer pelo povo desta região, considerando suas fragilidades e necessidades. “Surpresa é um lugar distante, pequeno e isolado, só se chega de barco. Do ponto de vista humano, para um missionário é instigante e, ao mesmo tempo, desafiador. Pude, realmente, constatar que este campo de missão não basta apenas querer, tem que ter vocação. A vida vivida nesse chão foi mais que um dia atrás do outro, foi uma experiência de Deus”, declara a Irmãzinha.

Publicado em 3 de março de 2025.