A CPT nasceu em junho de 1975, durante o Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia, convocado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Foi fundada em plena ditadura militar, como resposta à grave situação vivida pelos trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, explorados em seu trabalho, submetidos a condições análogas ao trabalho escravo e expulsos das terras que ocupavam.
Nasceu ligada à Igreja Católica. O vínculo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ajudou a CPT a realizar o seu trabalho e a se manter no período em que a repressão atingia agentes de pastoral e lideranças populares. A CPT foi criada para ser um serviço à causa dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e de ser um suporte para a sua organização. O homem e a mulher do campo são os que definem os rumos a seguir, seus objetivos e metas. Eles e elas são os protagonistas de sua própria história. A CPT os acompanha, não cegamente, mas com espírito crítico.
Confira abaixo a carta na íntegra:
“Nós, 42 agentes da CPT (Comissão Pastoral da Terra) do Nordeste, Regionais (CE, PI, BA) e Nordeste II (RN, PE, PB, AL), estivemos reunidos em Canindé (CE), entre os dias 12 a 15 de julho de 2016, para o encontro anual de formação da Grande Região. Nas terras romeiras de São Francisco das Chagas, acolhedora de milhares de romeiras e romeiros nordestinos, rezamos, convivemos, estudamos, fortalecemos a esperança, reafirmamos compromissos e nos indignamos diante de tantas ameaças à vida das pessoas, especialmente as empobrecidas, e com a destruição da natureza, nossa Casa Comum. Animados por Francisco das Chagas e entusiasmados por Francisco de Roma, reafirmamos nossa missão de cuidar das pessoas e defender o planeta.
Dentre estas ameaças nos preocupa o avanço da mineração no Nordeste e em várias regiões do país e da América Latina, projetos de morte que seguem removendo pedras de forma assustadora e irresponsável. Não podemos esquecer o crime anunciado de Mariana (MG), onde a ganância do capital, materializada na ação das empresas Vale do Rio Doce, Samarco e BHP Billiton, arrasou com um mar de lama comunidades inteiras, destruiu rios, matas, casas, expulsou famílias e ceifou vidas humanas. Contudo, sabemos que a situação de Mariana é apenas uma de muitas provocadas pela ganância de poucos, e segue a expansão dos projetos de extração mineral no Nordeste e Brasil afora.
Milhares de famílias no campo, bem como nas cidades, vivem hoje sobre uma total insegurança em relação ao seu futuro diante da descoberta de novas jazidas e projetos de exploração mineral propagandeados, incentivados e financiados pelos governos brasileiro, na sua maioria, com recursos públicos. Comunidades inteiras, invisibilizadas pela grande mídia têm seus direitos desrespeitados, são atropelados pela desenfreada procura por estes bens que sustentam a atual sociedade consumista em crise. São elas que sofrem diretamente as consequências da mineração sobre a saúde, o modo de vida e o meio ambiente.
Constatamos essa realidade durante uma visita ao Assentamento Morrinhos, localizado no município de Santa Quitéria (CE), uma das 156 comunidades que podem ser atingidas pelo “Projeto Santa Quitéria” de Mineração Urânio e Fosfato através da empresa INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e Galvani, que tem como sócio majoritário a empresa Norueguesa YARA. A insustentabilidade desse projeto de morte se dá claramente quando é constatada a necessidade do equivalente a 115 carros pipas por hora, enquanto que as comunidades locais são abastecidas apenas por 28 carros pipas durante todo o mês.
O Assentamento Morrinhos fica apenas a 4 km da “mina de Itataia”, principal mina do Projeto. A desapropriação aconteceu em 1994 e, desde então, a comunidade vem produzindo alimentos da agricultura familiar para o consumo das famílias e comercialização dos seus produtos nas feiras locais, abastecendo diretamente as famílias dos municípios vizinhos. No entanto, com a instalação desta mineradora, a realidade será alterada, pois toda área de produção será contaminada pelos rejeitos radioativos a serem depositados em um reservatório acima dos cursos d’agua que abastecem três bacias do Ceará: Acaraú, Curú e Banabuiú. Em 2016, a CPT comemora seus 41 anos de existência junto aos povos do campo, das águas e das florestas.
O grito que ecoa das comunidades atingidas denunciando a mineração nos faz reafirmar que estamos do lado de quem sofre as injustiças. Nossa opção pelos pobres da terra é inegociável e, com ela, a opção por defender a Casa Comum de qualquer ação destruidora na busca desenfreada pelo lucro. Em sua Carta Encíclica “Laudato Sí”, o Papa Francisco afirma: “…Toda abordagem ecológica deve integrar uma perspectiva social que tenha em conta os direitos fundamentais dos mais desfavorecidos”, (n. 93). Neste sentido, o meio ambiente deve ser considerado à luz do destino comum dos bens e ser considerado um “bem coletivo” (n. 95). Por isso, reafirmamos nosso compromisso com as comunidades camponesas, comunidades e povos tradicionais que, historicamente, vivem na terra e cuidam dos bens naturais com responsabilidade e equilíbrio.”