Neste mês missionário, entrevistamos Clarice Schneider, catequista na Paróquia Imaculada Conceição, no Ipiranga, em São Paulo (SP). Na entrevista, Clarice aborda a catequese como uma bonita missão de levar a Palavra de Deus para os catequizandos e suas famílias. “A alegria profunda e pura que a Palavra de Deus gera em mim é como um tesouro e tenho sempre a vontade e o desejo sincero que todos a meu redor também experimentem essa alegria e tenham esse tesouro. Como cristã e batizada, é para mim um dever anunciar a Jesus e o seu plano de salvação, aliás, é missão de todos nós, segundo ordena o próprio Cristo: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura’ (Mc 16,15)”, afirma a catequista. Confira a entrevista na íntegra.
CIIC – Por que decidiu dedicar-se a catequese? O que a motiva na missão na catequese?
Clarice – Cresci dentro de uma família muito religiosa e meus primeiros catequistas foram meus pais, rezávamos e papai fazia a leitura da Palavra de Deus em família todos os dias antes do jantar. O passo seguinte foi a participação no grupo de reflexão de nossa comunidade, nas casas, na roça. A intempérie amazônica nunca nos parou: sol, chuva, cobra, poeira, distância, escuridão, cansaço físico; pelo contrário, essa catequese comunitária eram momentos de alegria, de partilha, de união, de fraternidade.
Então, próximo do momento da minha primeira comunhão, em 1992, expressei meu desejo de servir a Deus e aos irmãos na catequese, conversei com meus pais e meu pároco e já fui encaminhada para participar da formação que a paróquia oferecia. Meses depois fiz a primeira comunhão e, na sequência, meus catequistas me convidaram para auxiliar com as crianças, comecei no mês seguinte e nunca mais parei.
Minha motivação é o amor a Jesus, o amor a Igreja e o amor ao próximo, é maravilhoso falar de um Deus que é misericórdia, que transforma nossas vidas, de um Deus que se fez homem para a redenção humana. A alegria profunda e pura que a Palavra de Deus gera em mim é como um tesouro e tenho sempre a vontade e o desejo sincero que todos a meu redor também experimentem essa alegria e tenham esse tesouro. Como cristã e batizada, é para mim um dever anunciar a Jesus e o seu plano de salvação, aliás, é missão de todos nós, segundo ordena o próprio Cristo: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura” (Mc 16,15).
CIIC – Qual é o papel da catequista na vida das crianças e das famílias?
Clarice – É, sobretudo, o de ajudar no seguimento e de fazê-los descobrir Jesus pouco a pouco; é um itinerário que se faz juntos. Como catequista devo ser sempre testemunha e, com o exemplo e a alegria, mostrar para as crianças, adolescentes e suas famílias que seguir Jesus é incrível e transformador.
CIIC – Qual é a maior alegria em ser catequista?
Clarice – Perceber que os catequizandos, após 1 ou 2 anos, estão diferentes. Eles veem e percebem a fé e o convívio comunitário e fraterno como sendo essenciais para suas vidas, que tudo isso vai além dos sacramentos, e com certeza uma sementinha foi plantada e deverá transformar suas vidas.
CIIC – Quais desafios o catequista enfrenta nos dias de hoje?
Clarice – São muitos, a começar pela própria família, que atualmente está muito ferida, sofrendo dos males do nosso tempo: divórcio, vida corrida, desemprego, vícios, violência, distanciamento da Igreja. Este último mudou o perfil das crianças e a forma como a catequese deve ser abordada; algumas crianças, por exemplo, precisam aprender as primeiras orações (Pai Nosso, Ave Maria ou ainda fazer corretamente o sinal da cruz). Assim, como catequista, preciso descobrir suas histórias e revelar o rosto de Jesus de forma que vá ao encontro dessas realidades.
CIIC – Como ajudar as crianças e também as famílias a darem continuidade na caminhada na Igreja após receber o sacramento?
Clarice – O papel do catequista e, por conseguinte da catequese, é não só de preparar as crianças, adolescentes, jovens e adultos para os sacramentos, mais também de dar uma base mais sólida para a formação de novos cristãos capazes de dar continuidade à missão de Jesus Cristo. Ao longo da catequese, trabalho a inserção deles na vida litúrgica, comunitária, espiritual e no serviço ao próximo. Isso garante que ao menos façam alguma experiência e tenham a possibilidade de descobrir seus dons e como usá-los em prol da comunidade.
CIIC – Como é ser catequista nos dias de hoje com o avanço da tecnologia? Como “inovar” na catequese para “competir” com os aparelhos eletrônicos ou até mesmo fazer deles aliados na evangelização?
Clarice – Ser catequista nos dias de hoje é desafiador, creio que sempre tenha sido, mas agora há o agravante das mais variadas distrações tecnológicas. A tecnologia em si, para mim particularmente, ajuda muito na catequese, para estudo, pesquisas e comunicação. Há limites que precisam ser postos, como ensinar os catequizandos a observar as fontes de pesquisa, a serem mais críticos com o que leem sobre a Igreja e a Palavra de Deus e que essa visão seja construtiva. Por outro lado, a tecnologia é essencial para promover a interação, a comunicação, novas descobertas e adquirir conhecimentos que antes eram restritos e, com o advento da internet, o acesso é fácil e rápido.
CIIC – Mensagem de uma catequista para os catequistas que desenvolvem essa bonita missão.
Clarice – Que o amor a Jesus seja a razão para perseverar e propagar seus ensinamentos e modo de vida aos nossos catequizandos e suas famílias, que tenhamos em Nossa Senhora o exemplo da fiel discípula e peçamos sempre a proteção do Espírito Santo para que nos conduza na sabedoria, no discernimento, no entendimento e no temor a Deus.