A Campanha da Fraternidade (CF), realizada há 60 anos, é o modo brasileiro de celebrar a quaresma: um convite especial à conversão pessoal, comunitária/eclesial e social.
Neste ano, a Campanha tem como lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Cf. Mt 23,8), que apresenta uma linguagem de gênero inclusiva. Isso já aponta para os princípios norteadores da reflexão e ações desta Campanha.
Objetivo Geral: Despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos.
As perguntas saltam em minha mente: Qual valor? Qual beleza? O valor e a beleza da amizade. Muitas(os) de nós já experimentamos o valor de uma amizade e refletimos em grupos com crianças, adolescentes e jovens este assunto. Temos acesso a vários significados de amizade abordados por pensadoras(es) clássicos e outras(os). E, pode ser, que até cantamos: “Se uma boa amizade você tem, louve a Deus que a amizade é um bem”, música de Irene Gomes.
Quantos amigas (os) temos? Talvez um grupo bem reduzido de pessoas. E aqui está a novidade apontada pelo Papa Francisco sobre a amizade social: “ir além dos grupos de amigos e construir a amizade social, tão necessária para a boa convivência (…)” (CF, n.7)
Vale apena ler o texto base da CF/24. Destacarei, a seguir, apenas alguns elementos do documento, os quais poderão ser oportunos para o nosso confronto pessoal e dinâmica de conversão.
VER: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9)
- Nossa fé nos recorda que somos todos irmãos e irmãs. (CF, n. 24)
- Somos diferentes! E nossas diferenças não são, em si, um problema! (CF, n. 25)
- A subjetividade é um valor e a solução não é um pensamento único. (CF, n. 27)
- Eliminar qualquer forma social ou cultural de discriminação. Precisamos acolher, conhecer e apreciar. (CF, n. 28-29)
- Sinais de divisões e inimizades, sombras de um mundo fechado. (CF, n. 32-52)
- Síndrome de Caim = guerra em pedaços/globalização da indiferença. (CF, n.54)
- Sociedade desigual, dividida, excludente…tenho amigas(os) entre os mais vulneráveis? (CF, n. 62-67)
- Esgotamento epocal: hiperindividualismo. (CF, n.68)
- Vivemos fisicamente próximos, mas existencialmente distantes. (CF n.71)
- Vencer a “cultura de muros”. (CF, n. 75)
- Diálogo e conexões através das tecnologias da comunicação. (CF n.78)
- Mártires, movimentos sociais, associações comunitárias, Comunidades Eclesiais: onde estou? (CF, n.81-85)
ILUMINAR: “Vós sois todos irmãos e irmãs.” (cf. Mt 23,8)
- A vida fraterna. (CF, n. 86)
- Jesus denunciou a instrumentalização da fé. (CF, n. 87)
- Eles alargam as bordas dos seus mantos, mas não são capazes de alargar o espaço de suas tendas. (cf. Is 54,2) (CF, n. 90)
- “Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus.” (Fl 2,5) (CF, n. 92)
- Um único Pai, um único Mestre. (CF, n.94)
- Um único guia: Espírito Santo que gera diversidade de Carismas e ministério. (CF, n.95)
- É na centralidade da paternidade/maternidade de Deus que se fundamenta a fraternidade na comunidade. (CF, n. 94)
- O Testemunho dos Santos. (CF, n 114) e da VRC. (CF, n.117)
AGIR: “Alargar o espaço da tua tenda.” (Isaías 54,2)
Sugestões de ações: pessoal, comunitário-eclesial e social.
- Identificar “nossas guerras” (…) cuidar para que o mal não se espalhe no mundo.
- Reagir sempre como o Bom Samaritano.
- Ir ao encontro.
- Celebrar a vida do outro: conquistas e vitórias.
- Coleta Nacional – Solidariedade.
- Conversão pastoral.
- Alargar nossos círculos de atuação: “Igreja em saída”.
- Parcerias com grupos que cuidam da vida dos mais vulneráveis.
- Valorizar o voluntariado e o serviço comunitário.
- Implementar e popularizar a prática da Justiça Restaurativa.
- Denunciar crimes de violência e de ódio.
- Conscientizar e formar para a educação midiática.
- Fomentar e incentivar redes de comunicação popular.
É importante criar e encontrar espaços para propor a reflexão da CF/24. Muitos materiais estão sendo divulgados nas redes sociais para formação, encontros de grupos diversificados.
“Tempo oportuno” para nossa conversão e, sobretudo, para cultivarmos relações de amizade, rompendo com a indiferença, exercitando na prática de uma comunicação não-violenta e ficarmos atentas(os) a tantas outras atitudes, sutis, que nos distanciam umas(uns) das(os) outras(os) e do cuidado com a “Casa comum”.
Por Irmã Maria Vera Lúcia Oliveira (CIIC)