A relação entre o homem e a mulher na sociedade sempre girou em torno de costumes e paradigmas patriarcais atrelados ao homem e seu prazer, o qual não é apenas físico, mas também moral. Portanto, enquanto a mulher for forçada a acreditar que é indefesa e treinada para a batalha inversa na vida, que é aquela de retrair a sua capacidade intelectual, de se abster de participação social, de ser submissa nas decisões, de ter atitudes passivas e acomodadas diante da violência física e verbal, facilitará para a manutenção do ideal imaginário de que o príncipe sempre deverá salvar a princesa frágil e indefesa das garras do dragão, o que isso apenas significa manter a mulher refém de uma estrutura tipicamente obsoleta – o patriarcalismo .
As mulheres do século XXI já baniram o mero estereótipo de “dona do lar”/ “rainha do lar”/”mulher indefesa e frágil” até porque a Constituição Federal da República Federativa do Brasil sacramentou no artigo 5º, inciso I, o direito fundamental da igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres. Consequentemente, paradigmas foram rompidos quanto ao exercício de determinadas profissões, quanto ao compartilhamento de tarefas comuns no âmbito da residência e da educação dos filhos, quanto uma maior representação política, e quanto à repreensão da violência contra a mulher em decorrência da Lei nº11.340 do ano de 2006 – Lei Maria da Penha.
Não obstante avanços históricos ocorreram, não podemos descartar que a mulher brasileira ainda enfrenta tabus, discriminações e grande violência física, sexual e moral, todos inseridos numa trajetória justificada sob o arcabouço cultural do macho latino. Contudo, essa mulher contemporânea não se recente facilmente e, por via de consequência, diversas bandeiras de luta por direitos tremulam, e ao longe pode-se ouvir o ecoar do poder crítico e reivindicatório da mulher diante das injustiças. Trata-se do empoderamento das mulheres em todos os campos sociais, políticos e econômicos.
Em recente convite para ministrar a Oficina Mulheres, no IV Seminário da CIIC, as participantes foram convidas a desenharem o contorno de seu corpo no papel craft exposto no chão da sala. As várias formas femininas delineadas que surgiram em linhas sobrepostas sobre o papel, revelaram as muitas mulheres em uma só, significando que as experiências individuais por mais diferentes que possam parecer, sempre há um ponto de semelhança que as fazem bradar por justiça, por igualdade, por respeito. Essa experiência prática ajudou a compreender o sentido de pertença do seu Eu – indivíduo, enquanto parte integrante de um grupo e/ou da sociedade. A mulher ao desenvolver sua consciência enquanto ser humano na sociedade, desmistifica comportamentos opressores talhados secularmente e rompe barreiras em ambientes primordialmente considerados exclusivamente masculino.
Nesse sentido, entre os diversos rostos femininos entrecruzados e percebidos ao longo da vida profissional como advogada e professora, seja às margens do caudaloso rio Madeira, ao Norte do país, nas linhas rurais que adentram a mata amazônica, seja no influxo das metrópoles brasileiras, percebe-se um olhar maternal da mulher, sensível à vida, que norteia a esperança por dias de efetiva igualdade de tratamento, de efetiva dignidade da mulher. A vida dessas mulheres (ribeirinhas, sitiantes, urbanas, feirantes, etc) se encarregou de contar suas histórias nas profundas marcas no rosto que podem até não representar a verdadeira idade cronológica, mas traduzem fortaleza, satisfação de ser mulher vitoriosa. E, mesmo que, em algum momento, a dor da perda sobreponha a alegria da conquista, essas mulheres que encontro no rincão do Brasil persiste em rogar e impor um tempo de igualdade em dignidade.
Respeito e menos violência. Igualdade em tratamento e menos discriminação. Vamos adiante na defesa da mulher para que direitos sejam efetivamente garantidos e respeitados.
Colaboração: Leticia Botelho – Mulher, mãe, advogada, professora, cristã católica